terça-feira, fevereiro 12, 2013

CRÔNICA


Saudade dos Tempos de Outrora   


Ah, que saudade dos tempos de outrora! Quando vivia na casa dos meus pais. Que tempo bom!
Éramos tão unidos! Meu pai sempre trabalhando na olaria, saia cedo de casa, às vezes nem voltava, passava a noite dentro da caatinga procurando lenha para queimar o forno. E cá ficávamos nós, com a nossa querida mãe. Senhora calma, muito contrita com Deus, vivia só para casa, mais mesmo assim era visível nos olhos dela a insegurança por estarmos sós. Era como se toda a comunidade soubesse da ausência dele naquela noite.
Também! Não é para menos, naquela época, mais ou menos na década de sessenta (1960), eu era ainda muito criança, sendo o caçula, e os meus irmãos mais velhos ainda eram adolescentes, não passava segurança para ninguém. E ela não fazia outra coisa a não ser passar a noite acordada pedindo proteção à Deus para que nada de mal acontecesse com a gente e também com meu pai que estava na rua.
A casa que nós morávamos ficava na beira da estrada, não era muito segura, e bem ao lado ficava a casa da minha avó, que também precisava de segurança por viver sozinha. Era um bairro chamado Caiuca na Cidade de Caruaru.

A lembrança da minha avó ainda é muito forte, parece que eu estou vendo ela, ali sempre na minha frente, que saudade eu sinto dela!  Era uma senhora de estatura média, gordinha, porém, apesar da idade nunca deixou de pintar os cabelos fio por fio, com uma tinta chamada “ossol”, eu acredito que nem existe mais essa tinta. Como eu era o caçula e o seu neto preferido por estar sempre perto dela para fazer os seus mandados, eu fui quem mais sentiu a sua partida. Ah, que saudade dos tempos de outrora!
Ah! Nunca esqueço quando minha tia Ester estava para chegar de Recife, era uma festa só, tanto para mim, quanto para meus irmãos, pois ela vinha com meus primos e primas. Aliás primos e primas, naquela época eram como se fossem irmãos, havia o maior respeito entre nós, o melhor de tudo era quando íamos esperar ela na estação do trem no centro da cidade, íamos andando, eu com meu chapéu de couro branco na cabeça parecia um vaqueiro mirim. E lá estávamos nós esperando o apito do trem, tão logo eles chegavam, íamos logo começar a festa.

Eram quinze dias sem ir para a escola, só brincando. Toda a tarde logo depois do almoço ia levar minha tia para a casa de dona Sebastiana uma senhora benzedeira que dizia ter poderes paranormais e curava as pessoas apenas com rezas e um galho de pinhão. E lá estávamo-nos brincando enquanto os adultos resolviam os seus problemas, com a dona Sebastiana. Para mim é tudo tão nítido, é como se o tempo não tivesse passado e estivesse ainda muito presente em mim.

No meio do caminho quando nós íamos para a casa de dona Sebastiana a benzedeira, era uma aventura muito grande, havia bem ao lado do caminho que a gente passava, uma área chamada de “os langanhos”, eram os restos do boi que o matadouro jogava neste local, era uma fedentina só! Era uma espécie de cemitério, tudo que não servia do boi o matadouro mandava para este local, e lá ficava exposto a céu aberto, a fedentina era grande, mais o que fazer numa época em que não existia uma política de saúde publica, o jeito era aprender a conviver com o mau cheiro, até por falta de conhecimento. E lá estávamos nós, felizes para sempre, olhando os abutres se deliciando com “os langanhos”. Ah, que saudade de dos tempos de outrora!

Walfrido Gomes dos Santos Filho. 31/ 03/ 2012

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